Análise

 Personagens


          As personagens em O Cortiço não são seres independentes, podendo ser vistas preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem ser separados em grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão apresentados a seguir.

O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização (transformação do homem em animal, devido a seu comportamento instintivo e violento); é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios nas pessoas de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de homem desprovido de livre-arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa para Romão, criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens.

João Romão: baixo, de cabelos à escovinha, barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda e ao capinzal, sempre de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se logo com as unhas. "...possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha."

Miranda- português, 35 anos, negociante de tecidos. Muda-se para um sobrado, ao lado do cortiço de J. Romão, casado por interesse com Estela, que não o ama, fazendo o lusitano sentir-se humilhado e aos poucos irá invejar J. Romão que ascendeu sozinho, sem precisar se casar por conveniência.

Estela- esposa de Miranda, pretensiosa e com fumaças de nobreza que trai seu marido.

Zulmira- suposta filha de Miranda, pálida, com pequeninas manchas roxas nas narinas, sardas pelo rosto, unhas moles e curtas, olhos grandes, vivos e maliciosos.

Bertoleza- quitandeira, escrava que enganada por J. Romão crê que está alforriada. Trabalhadeira, humilde e servil.

Piedade- esposa de Jerônimo, não se adapta aos costumes do cortiço mantém seus hábitos portugueses, tanto na alimentação como em não tomar banho todos os dias. Abandonada pelo marido, vai se degradando até ser expulsa do cortiço.

Jerônimo-português, alto, barba áspera, cabelos pretos e maltratados caindo-lhe sobre a testa, pescoço de touro e cara de Hércules, com olhos que exprimiam bondade. A princípio mostra-se trabalhador, bom marido, bom pai. Ao se apaixonar por Rita Baiana passa por uma degradação muito grande. No final da narrativa busca sua mulher e filha e abandona o cortiço, na esperança de voltar a ser o que era.

Rita Baiana- mulata muito sensual, amiga de todos no cortiço ”E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas.” Mulher independente, causadora da transformação de Jerônimo que fica fascinado por ela. Tudo começa quando ela lhe oferece um café.

Firmo- capoeirista, amante de Rita Baiana. Teria seus trinta e poucos anos, mas não parecia ter vinte e poucos. Pernas e braços finos, pescoço estreito, porém forte; não grande cabeleira encaracolada, negra e bem negra, dividida ao meio na cabeça, estufando debaixo da aba do chapéu de palha, que ele punha de banda derreado sobre a orelha esquerda.

 

                                          ..........................................................................................................

 
                                                                 Espaço

         A narrativa transcorre em alguns bairros do Rio de Janeiro, mas seu foco de atenção se atém ao cortiço de João Romão, situado em Botafogo. São dois os espaços explorados na obra. O primeiro é o cortiço, com casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão.
        O cenário do cortiço é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço: "Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras ...o prazer animal de existir,... E naquela terra, ...naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco."


        O segundo espaço, que fica ao lado do cortiço, é o sobrado aristocratizante do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante. Dessa maneira, o sol abrasador do litoral americano funciona como elemento corruptor do homem local.


 ..........................................................................................................


Estrutura

      A obra apresenta 23 capítulos não intitulados e não muito curtos. Presença constante de diálogos.

        Narrada em terceira pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou descrito. Há um total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional, por vezes no cortiço de João Romão, outras no sobrado de Miranda. Como o narrador exerce a onisciência, por vezes sua fala se confunde com a dos personagens, principalmente com João Romão, por meio do discurso indireto livre.

          Há o predomínio na narrativa do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das personagens. Pedagogicamente, privilegiam a minúcia descritiva, revelando ao leitor as reações externas e internas das personagens, abrindo espaço para os retratos literários e para o detalhamento do cotidiano banal. Aluízio Azevedo escolheu essa visão absoluta frente à ação. Ao optar por um narrador onisciente e observador, que registra tudo com bastante nitidez e riqueza de detalhes, age como se tivesse à mão uma câmera cinematográfica dotada de lente grande angular e de microfone ultrassensível. Dessa maneira, ele pode estar ao mesmo tempo dentro e fora de cada uma das personagens, penetrar, decompor e recompor um imenso painel social e moral, ora focalizando as cenas num plano geral, ora descendo aos detalhes físicos das personagens.


 ..........................................................................................................


 Mensagem


Na opinião do grupo, a obra de Aluízio Azevedo mostra com simplicidade, de uma forma nua e crua, a vida nas comunidades carioca em meados do século XIX. O livro não mostra safadeza, mas sim naturalismo, não mostra brigas vulgares e condições de vida surreais, entretanto mostra como era uma sociedade preconceituosa, uma sociedade onde a guerra de etnias prevalecia e onde a pobreza também existia. Mas o que o livro realmente quer nos passar, é que, acima de todas as dificuldades, aquele povo tinha o que muita gente na sociedade de hoje em dia não tem: a alegria de viver sem medo de ser feliz.

Muitos devem está se perguntando, mas afinal o que é um cortiço? O cortiço era um conjunto de moradias onde muitas famílias moravam em espaços mínimos, do tamanho de uma sepultura. Se numa casa tinha condições de moradia apenas cinco pessoas, essa casa era dividida para vinte.

“O Cortiço” é um livro tão variado que nos permite observar de varias mensagens, como a o preconceito contra homossexuais, a transformação da mulher em um objeto sexual, e é claro, a crítica ao capitalismo selvagem com a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De um lado João Romão que aspira à riqueza e Miranda, já rico, que aspira à nobreza, do outro, “a gentalha", caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome:

"E naquela terra encharcada o fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a fervilhar, a crescer um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro e multiplicar-se como larvas no esterco. " 

 
"As corridas até a vende reproduziam-se num verminar de formigueiro assanhado."

"Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas."

 
...entre muitos outros temas que se empilham para formar uma imensa crítica ao Brasil da época.
Os maiores aspectos positivos da obra são a forma aberta como o livro fala da sociedade, deixando bem claro as condições de vida que tinha o povo pobre naquela época, o preconceito existente naquela sociedade (onde negros em especial eram reprimidos e desvalorizados) e uma lição da vida: Os fortes sempre reinam sobre os fracos.

Por fim recomendamos a leitura desse livro á todos que gostem de um livro crítico, e que queiram entender um pouco mais sobre como era a vida dos nossos ancestrais de 150 anos atrás.










Nenhum comentário:

Postar um comentário